A exposição rádio con:vida é um desafio para pensar um dos mais revolucionários e deslumbrantes modos de comunicar do século XX. O rádio, enquanto objeto e tecnologia de comunicação, despertou o interesse de inventores, engenheiros, físicos, designers, colecionadores, historiadores e um sem número de indivíduos que lhe dedicaram por vezes a própria vida. Já a rádio, assim enunciada no feminino, remete-nos para um mundo paralelo ao dos objetos, marcado pelos conteúdos da comunicação sonora onde a música, a palavra e a língua se articulam para conferir sentido aos próprios objetos. O rádio e a rádio não existem separadamente. E é desta inevitável dependência que se gerou um arquivo polissémico que nos permite recuperar as memórias sonoras do passado ao mesmo tempo que nos possibilita admirar os objetos e as histórias que eles escondem.
Esta exposição convida-nos a visitar a história dessa harmoniosa cumplicidade entre os objetos e os sons. Ela foi pensada a partir do conceito de arquivo como um processo constante de reconstrução do mundo e enquanto lugar de consignação e de domiciliação da memória. E procura oferecer-nos uma viagem por diferentes tipos de arquivos: aqueles construídos pela língua portuguesa difundida pelas rádios a partir de todos os continentes; aqueles que nos ajudam a lembrar momentos cruciais da nossa história coletiva representada por sons, vozes e, também, por inquietantes silêncios; aqueles que incorporámos ao eleger pela escuta a música com a qual nos identificamos e que nos representa; ou aqueles que organizam o nosso quotidiano através das palavras que nos informam, nos provocam ou simplesmente nos divertem. Oferece-nos, ainda, a possibilidade de observar de perto os objetos que fizeram a rádio acontecer ocultando tecnologias complexas de comunicação que, pelas mãos mágicas dos designers, se transformaram numa presença sedutora e numa companhia indissociável das nossas vidas. Este projeto começou em 2017 com uma ideia inicial de Ana Paula Peters, professora na Universidade Estadual do Paraná e então investigadora de pós-doutoramento no INET-md na Universidade de Aveiro. O encontro com a coleção privada de Cesar Papini, tinha sido, na altura, o rastilho para pensar uma pequena exposição sobre rádio. Mas a essa ideia foram, entretanto, acrescentadas camadas de novas possibilidades e colaborações, que Gaëlle Pillault, mestranda do curso de design da Universidade de Aveiro, fez congregar num arrebatador projeto museográfico que é, também, a sua dissertação de mestrado. O acolhimento da exposição por parte da Fábrica de Ciência Viva de Aveiro, a colaboração da Radiolândia – Museu do Rádio – e dos arquivos da Radio e Televisão de Portugal, conferiram à radio con:vida um valor particular enquanto projeto de articulação entre a universidade e a comunidade, entre a investigação e o seu significado e impacto social. Para ele trabalharam de forma colaborativa e criativa membros do INET-md, do ID+, da Fábrica da Ciência Viva de Aveiro, da Rádio e Televisão de Portugal, e um grupo do projeto SOMA – Sons e Memórias de Aveiro, ao qual se deve a presença da cidade e da região nesta exposição. Através dos testemunhos de muitos protagonistas das rádios locais da região de Aveiro, o documentário Aveiro: Memórias da Rádio é um emocionante manifesto de como a cumplicidade entre os objetos e os sons da radiofonia, é capaz, também, de desenhar territórios e de nos vincular a eles.
Susana Sardo | Ana Flávia Miguel | Pedro Aragão
Fábrica Centro de Ciência Viva de Aveiro
01 de julho ‘19 a 30 de julho’20